– Encontros intoleráveis ou a ética do/a escutador/a. –
No contexto “necropolítico” não intervir com/para uma vida em risco é quase que automaticamente permitir que sua morte aconteça.
O que quero dizer é que de algum modo a posição de “escutador/a”, para ser exercida em sua “plenitude”, deve ter como método (modo de fazer) a presença. Escuta-se com todo(s) o(s) corpo(s) em um acordo desarranjado de envolvimento. Mesmo assim: perguntar não basta.
Não pode ser que seja normal não se importar com “o-que-está-aí”.
Exercer o direito a vida, ou quando se toma isso como posição, exige um comprometimento com a existência de um(a)-outro(a) ( empatia, recuo de privilégios…).
Um “encontro intolerável” é aquele em que não temos mais total controle sobre nosso envolvimento. É quando não podemos passar por eles (os encontros) sem nos re-fazermos. Esse tipo de encontro impede que vejamos o mundo da mesma forma que antes.
Ao seguir como se nada tivesse acontecido estaremos, automaticamente, contribuindo para o extermínio desse alguém.
Quem vemos, nos olha. E o que estamos fazendo com isso?
Referências:
DIDI-HUBERMAN, G. O que vemos, o que nos olha. 2a ed. São Paulo: Editora 34, 2010.
MBEMBE, A. Necropolítica. São Paulo, sp: n-1 edições, 2018.
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. São Paulo: Martins Fontes, 2012c.